qualidade do ar e o xadrez

Baixa qualidade do ar piora o desempenho no xadrez

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Os jogadores de xadrez precisam pensar sempre alguns lances à frente, mas para vencer devem também estar atentos a outro adversário, a qualidade do ar.

Um estudo comprovou que jogadores de xadrez têm pior desempenho quando a qualidade do ar é ruim. Talvez esse estudo responda à uma afirmação de que os jogadores de xadrez jogam pior nas grandes cidades do que em áreas rurais.

O estudo foi realizado na Holanda e analisou 30.000 jogadas de xadrez de 121 jogadores em diversas condições de qualidade do ar.

Poluição do ar afeta a tomada de decisão

Uma pesquisa realizada pela Universidade de Maastricht Escola de Negócios e Economia na Holanda em parceria com o Massachusetts Institute of Technology (EUA) usou o mecanismo de xadrez Stockfish para analisar movimentos enquanto monitorava os níveis de qualidade do ar.

Descobriu-se então que um pequeno aumento de partículas finas no ar aumentou a probabilidade de erro em 2,1%, e a gravidade desses erros aumentou 10,8%.

O estudo, chamado de “Qualidade do ar interior e tomada de decisões estratégicas” foi publicado na Revista of Management Science, analisou 30.000 jogadas de 121 jogadores em três torneios na Alemanha em 2017, 2018 e 2019, com duração de dois meses cada.

As pessoas estão expostas à poluição do ar em quase todos os lugares do mundo. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 99% da população mundial respira ar poluído diariamente. Portanto, os jogadores de xadrez que competem em ambientes fechados e em cidades não são exceção – e isso pode afetar seu desempenho.

Alguns prejuízos que a poluição atmosférica representa para a saúde humana já são conhecidos. Por exemplo, o ar de baixa qualidade aumenta o risco de sofrer doenças cardíacas, derrames e certos tipos de câncer.

No entanto, novas pesquisas – como essa – sugerem que a má qualidade do ar pode estar ligada a uma redução no funcionamento cognitivo.

Qualidade do ar prejudica também empresas

Nessa pesquisa o xadrez foi utilizado por ser um jogo baseado fundamentalmente em tomadas de decisões que podem ser trágicas do ponto de vista de resultado.

“Descobrimos que quando os indivíduos são expostos a níveis mais elevados de poluição atmosférica, cometem mais erros e cometem erros maiores”, afirma o coautor do estudo, Juan Palacios. “Achamos interessante que esses erros ocorram especialmente na fase do jogo em que os jogadores enfrentam pressão de tempo. Quando esses jogadores não têm a capacidade de compensar o menor desempenho cognitivo com maior deliberação, é onde observamos os maiores impactos.”

Isto tem implicações para quem toma decisões sob pressão em áreas poluídas e pode aumentar o custo econômico global associado à poluição atmosférica. O Banco Mundial estima que esse custo seja de US$ 8,1 trilhões a cada ano.

Como foi realizado o estudo

No estudo a poluição do ar foi mantida sob controle.

Os investigadores estudaram o desempenho de 121 jogadores de xadrez em três torneios separados entre 2017 e 2019.

Nesses torneios eles avaliaram mais de 30.000 movimentos de xadrez utilizando um software de computador (Stockfish) que identificou decisões ideais e sinalizou erros significativos.

Uma série de fatores podem interferir no desempenho de um jogador. Estes incluem o ruído do tráfego, temperatura e poluentes atmosféricos, incluindo PM2,5 e CO₂. Os autores investigaram o impacto de cada um e descartaram todos os fatores, exceto PM2,5.

Cada torneio durou oito semanas, portanto, ao medir as concentrações de PM2,5 dentro do local do torneio, foi possível determinar como as variações na qualidade do ar estavam relacionadas às mudanças no desempenho dos jogadores.

Ao longo dos torneios, as concentrações de PM2,5 variaram de 14 a 70 microgramas (μg) por metro cúbico de ar.

Estas são partículas minúsculas emitidas no ar pela combustão de materiais como combustível, usinas de energia movidas a carvão, incêndios florestais e fogões, entre outras.

A exposição a tais concentrações é comum em muitas cidades ao redor do mundo e é classificada como moderada a prejudicial à saúde pela Agência de Proteção Ambiental dos EUA.

Para um pequeno aumento em PM2,5 (10 μg por metro cúbico de ar), os jogadores de xadrez tinham 26,3% mais probabilidade de cometer erros. A análise do computador concluiu que os erros cometidos foram 10,8% piores do que uma jogada ideal teria sido.

Mas o impacto da qualidade do ar no jogo aumentou quando os jogadores estavam sob maior pressão. Os torneios exigiam que 40 jogadas fossem feitas em 110 minutos, o que induzia maior pressão de tempo nas fases posteriores do jogo.

Para o mesmo aumento no PM2,5, os jogadores de xadrez cometeram erros maiores mais tarde no jogo. Nos dez lances finais, quando é necessária concentração máxima, o volume de erros aumentou 20,2% para jogadores com ar de qualidade mais baixa em comparação com jogadores com ar normal.

jogo de xadrez ao ar livre

Baixa qualidade do ar deixa as pessoas menos inteligentes?

A ideia de que um ar mais limpo leva a um pensamento mais aguçado entre os jogadores de xadrez é consistente com as evidências crescentes que ligam a qualidade do ar ao desempenho cognitivo a curto prazo.

Por exemplo, a análise dos dados diários sobre a poluição do ar na China revelou uma relação negativa entre a qualidade do ar e os retornos das ações de 2005 a 2014.

Este efeito foi mais fraco para as empresas que tomaram medidas para resolver problemas de qualidade do ar. Os autores do estudo associaram a má qualidade do ar à criação de um humor deprimido entre os investidores.

Uma outra pesquisa sobre os efeitos da exposição de curto prazo ao PM2,5 em ambientes internos e externos também revelou que a exposição a velas acesas e ao tráfego suburbano afeta negativamente o funcionamento cognitivo.

Os participantes realizaram três testes cognitivos antes e depois de uma hora de exposição às PM2,5 e tiveram um desempenho significativamente pior, em média, nos testes pós-exposição.

Consequências da baixa qualidade do ar a longo prazo

Evidências epidemiológicas também sugerem que a exposição a altos níveis de poluição do ar em momentos críticos da vida de uma pessoa (especialmente em uma idade jovem) pode ser prejudicial à saúde do cérebro e levar à demência ou à doença de Alzheimer no futuro.

Embora os fatores que afetam a cognição e a demência ainda não sejam totalmente compreendidos, essas evidências atendem a muitas das diretrizes de Bradford Hill para causalidade. Esses critérios avaliam evidências epidemiológicas para determinar se existe uma relação causal.

A tecnologia está mudando o mercado de trabalho global e, como resultado, os empregos estão se tornando cada vez mais complexos.

Entre 1995 e 2015, a proporção de ocupações altamente qualificadas em relação ao emprego total aumentou em cerca de 5% na América do Norte e quase 8% na Europa. Ao mesmo tempo, a percentagem de profissões de qualificação média no emprego total diminuiu em ambas as regiões.

As pessoas que trabalham em indústrias de alta tecnologia, como a ciência de dados, também são obrigadas a tomar decisões complexas sob pressão. O desempenho destes profissionais no local de trabalho provavelmente também será afetado pela má qualidade do ar.

Portanto, especialistas em xadrez, que são estudados por sua capacidade de tomar decisões complexas sob condições estressantes servem como parâmetro para analisar essa situação.

A poluição do ar representa uma ameaça tão grande ao pensamento estratégico sob pressão que os jogadores de xadrez muitas vezes monitoram a qualidade do ar ao seu redor.

Mas o mecanismo através do qual a poluição atmosférica afeta a sua cognição (e a de todos os outros) permanece em grande parte obscuro. Mais pesquisas são necessárias para determinar com precisão quais poluentes são mais prejudiciais à saúde cognitiva, para que um nível de qualidade do ar seguro e reconhecido globalmente possa ser estabelecido.

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